
A riqueza está em nós mesmos e não nas coisas
Quincas Borba é um livro intrigante, de cunho crítico, de requintado humor e fina ironia. Estas definições não são minhas, foram lidas por mim em algum lugar e parafraseadas da forma que se vê. São definições que verdadeiramente se aplicam à obra, mas não são evidentes como é característico na obra machadiana. Há algo mais, há o que é preciso interpretar, existe a importante visão do leitor.
O livro narra a vida do ex professor Rubião, agora único herdeiro dos bens do filósofo rico Quincas Borba. Inicia com o finado sendo lembrado por sua filosofia “Humanitas”, que consiste basicamente no fundamento de que as coisas não são essencialmente boas ou más; são necessárias. O que acontece, tem lá sua razão para acontecer e não tem ligação com maldade ou bondade. O exemplo citado pelo filósofo é do caso de um campo de batatas, no qual a quantidade daria para uma única tribo, mesmo existindo duas. Se dividissem as batatas morreriam, mas se guerreassem por elas, a tribo vencedora saciaria a fome e sobreviveria. Daí provém a máxima do livro, dita aos quatro cantos de Barbacena pelo nosso Rubião: “Ao vencedor as batatas!”
Envolvido com gente diferente, ilustres, ostentadores de riqueza material, o antigo professor se vê em um mundo novo que aparentemente lhe agrada, afinal, nosso Rubião tem mania de grandeza. O contato com essas pessoas, especialmente com o casal Palha, lhe rende ostentação. Em troca do seu dinheiro o prestígio lhe é oferecido, aparentemente. As coisas começam a ganhar outro norte, quando ele se apaixona pela bela Sofia, esposa do amigo Palha…
Uma história reflexiva e caracterizadora de uma época, de uma civilização que muito tem em comum com a nossa. A sociedade da aparência não é coisa nova, assim como os falsos amigos. O autor quis mostrar as facetes dessa gente de um modo que possibilite ao leitor fazer suas próprias conclusões. Seguindo a características de micro capítulos, o autor tece ideais de impacto, instiga o julgamento de atitudes e arremata o texto com o tema loucura. Obra de português maduro, de requinte e de escrita bem trabalhada.
O que mais me chama atenção é a classe do autor ao tratar de assunto vil, como ele cuidou do texto para que a mensagem pudesse ser interpretada por caminhos diferentes, um mistério.
Recomendadíssimo!
2 comentários:
Olá caro Paul. Gostei muito da sua resenha. Machado de Assis é um autor que explora muito bem esse lado, ao mesmo tempo rude e elaborado do ser humano, e por isso, eu acredito, ele seja considerado um dos maiores escritores brasileiros. Grande abraço.
Obrigado pelas palavras positivas, amigo. Eu também considero Machado de Assis fenomenal. Um abraço.
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