Blog criado para divulgar a cultura. Um local sobre livros, cinema, arte, teatro, diversão e relaxamento. Seja bem-vindo(a).
Mural da Reflexão

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Stieg Larsson, o Homem Devorado pelo Dragão
Terminei agora dia 22 a leitura do primeiro livro da trilogia Millenium. Infelizmente li após ver o filme, mas não foi tão grave assim, afinal a Lisbeth Salander que construí na cabeça não parecia com nenhuma das duas atrizes que a interpretaram no cinema, tampouco meu Mikael Blomkvist se parecia com o Daniel Craig, quando muito adquiria um ar mais de Rutger Hauer em Feitiço de Áquila, mas na maior parte do tempo era um louro simpático e levemente barrigudo.
Gostei muito da leitura. Apesar do fantasma da trama solucionada murmurando sobre meu ombro, foi uma leitura agradabilíssima, envolvente. Foi divertido ver os detalhes do livro que ficaram de fora do filme e a forma como personagens como o novo tutor de Lisbeth era caracterizado de forma bem diferente do filme estadunidense. Os personagens são envolventes o que é bem compreensível quando você conhece a história de vida do autor. Espero aproveitar melhor as reviravoltas narrativas nos próximos volumes, onde poderei dispor do fator surpresa. Por enquanto, para mim, o primeiro volume da trilogia é muito bom, mas não supera Massacre Em Estocolmo, outro policial Sueco, escrito á quatro mãos pelo casal Sjowall e Wahloo. Claro, Martin Beck tem mais tempo de estrada que Mikael Blomkvist, então a comparação pode soar injusta, já que temos um possível caso de homenagem. Mas voltemos aos Homens.
Um livro escrito, segundo nos conta a mídia, durante o tempo livre de Stieg Larsson, para o puro deleite do autor. Na verdade, um livro escrito por muito mais do que puro prazer, Os Homens que não amavam as mulheres dá forma a um resgate moral do autor, a reconstrução através de seus personagens, principalmente Lisbeth Salander, de tudo aquilo que ele não pode mudar em sua vida. A personagem feminina principal permite ao autor se reconciliar com seus fantasmas pessoais, através da criação de uma mulher que é capaz de fazer por si mesma, e metaforicamente pelas outras mulheres, tudo aquilo que elas não podem fazer na vida real. Lisbeth é capaz de reagir e dominar a situação, ao contrário de muitas mulheres vítimas de violência. Através dela Larsson pode ajudar as mulheres que nunca pode auxiliar durante sua vida, criando um ícone capaz de se lançar sem medo contra o imaginário machista para destruí-lo, inspirando outras mulheres a dizer não a qualquer tentativa de diminuir sua grandeza para transformá-las em objetos. Lisbeth surge em um momento onde é muito necessária, quando o mundo supostamente é progressista, mas assim como a família Vanger, na verdade guarda com zelo sua podridão interior.
A história ganhou o mundo, sua força é perceptível no turismo de nicho, que busca conhecer a cidade e os lugares preferidos da protagonista, esperando quem sabe vislumbrá-la fugazmente em um café. A morte do autor, sem ter desfrutado os louros da sua obra, também é contaminada pela mística literária e vira um possível mistério, mais uma trama querendo se esconder nos bastidores, assim como as razões da infeliz disputa entre a viúva de Larsson e o pai e o irmão deste, detentores dos direitos da obra. Como se a precária situação em que Eva Gabrielsson ficou após a morte do companheiro não fosse suficiente, os leitores preferem especular se ela libera ou não libera o tal quarto manuscrito. Tal a ansiedade para ver a história em movimento.
Combinaria com a ficção policial considerar que Stieg Larsson foi envenenado pelos inimigos adquiridos em sua luta contra a extrema direita, mas por trás do mundano ataque cardíaco existe outro fantasma e essa é uma grande lição para os nós autores. No alto das escadas do prédio, no dia em que morreu, Larsson levou uma mordida fatal de seu dragão pessoal, aquele tatuado nas costas de Lisbeth. Sua história tinha adquirido tamanha força que foi capaz de devorar o próprio autor. Não que histórias não publicadas se ressintam de seus autores, ou mesmo tenham ódio ou amor, mas simplesmente tem fome e sede. Precisam nascer, percorrer o mundo e viver através dos leitores. É triste que a obra de Larsson de certa forma necessitou a morte de seu criador para ganhar vida, mas também é uma lição aos novos escritores, sobre não ficar preso á boa vontade dos editores. O dragão que matou Stieg Larsson tem uma cauda de quinze editores que recusaram seus escritos, intimidados pelo tamanho destes.
Histórias também tem limites e uma hora elas precisam ser contadas, sob a pena de devorarem o contador, pois muitas histórias são grandes demais para sair sozinhas de dentro do ser humano que as carrega. E este precisa de ajuda antes que sucumba á tarefa de libertar a narrativa que tem dentro de si, ou sucumbirá.
Novos escritores, não deixem passar a hora, vivam para ver suas criações resplandecerem.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Assisti o filme..e gostei bastante..O titulo esta bem criativo assim como o livro foi bem resenhado aqui..Descrito de uma forma que prende a atenção de quem está lendo..Parabens..
Postar um comentário