sexta-feira, 16 de março de 2012

Clarice, uma biografia

Terminei de ler Clarice, uma biografia, de Benjamin Moser. Minha primeira impressão logo após última página, é de que foi um livro curto de mais de setecentas páginas. Terminou rápido, como a vida de Clarice. Fico imaginando como ela estaria hoje se estivesse viva. É inevitável o pensamento de que ela provavelmente teria um blog hoje, já que excertos de sua obra são intensamente compartilhados nas redes sociais. Ou não, mas não consigo evitar a conjectura depois da intimidade da biografia. Moser navega pelo mito Clarice com habilidade, dissolvendo a aura do mistério Lispector, mostrando a mulher em suas facetas cotidianas e fazendo um interessante trabalho de dedução a respeito da vida interior de Clarice e como esta dá forma a sua literatura. Moser é um hábil narrador, envolve o leitor na sua visão da vida e obra da escritora.

O livro revela muito sobre as origens judaicas de Clarice e o reflexo de sua identidade judia em seus escritos. É objetivo de Moser mostrar Clarice como uma representante da mística judaica na literatura, reforçando a profunda influência da cultura judia em seu processo criativo, aspecto da obra de Clarice pouco estudado por seus críticos, segundo Moser. Esse enfoque é ao mesmo tempo o ponto forte e fraco do livro. Ao longo da leitura fica fácil perceber que o livro não foi escrito para o leitor brasileiro. Este aliás vai ficar com a impressão que estão falando de outra Clarice, que poderia ter vivido na África do Sul ou na Argentina, pois teria tão pouca identidade com esses países como tem com o Brasil na obra de Moser. Nosso país parece mais um cenário pitoresco onde Clarice viveu, do que parte de sua personalidade. A Clarice de Moser parece uma genial escritora emprestada ao Brasil e agora resgatada de volta do desconhecimento dos leitores internacionais. Mas o leitor pode ignorar essa estranheza e se entreter caminhando pelo mapa da vida de Clarice minuciosamente desenhado por Moser.

Para o escritor iniciante a vida de Clarice é muito reveladora. Ela teve dificuldade para ser reconhecida como escritora, para encontrar editores e para receber apropriadamente seus direitos autorais. Hoje vivemos em um mundo de auto publicação e o impacto desses problemas é bem menor. A vida de Clarice revela porém, o quanto o trabalho do escritor é uma questão de persistência. Ela duvidou de sua qualidade como escritora, detestou vários livros seus, mas mesmo assim persistiu, porque não poderia viver sem escrever. Por isso também, Clarice se considerava uma escritora amadora. Alguém que não escreve por obrigação mas sim porque quer, porque ser profissional era perder a liberdade, talvez uma frase contraditória e difícil de entender para quem viva da escrita hoje, mas é uma questão de espontaneidade criativa. A escrita para ela era autenticidade, não erudição. A vida dela dá muitas dicas para os futuros escritores. Vamos conhecê-la.

Um comentário:

O inusitado disse...

Eu acompanhando sempre o Blog..sempre de olho para ver se tem um texto novo..e ca estou eu terminei de ler o da Clarice...fiquei imaginando ela tendo um blog..e muita gente acompanhando..ai seria hilario..rss..
Otimo texto..